Compreendendo o sistema de enfrentamento à violência de gênero contra a mulher no Distrito Federal a partir das representações sociais das vítimas

Visualizações: 23

Autores

Palavras-chave:

Violência doméstica contra a mulher, Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), Sistema judicial de enfrentamento à violência de gênero, Representações sociais, Vitimização

Resumo

Neste artigo, objetiva-se compreender como as pretensões das mulheres vítimas de violência doméstica são percebidas pelo sistema judicial de enfrentamento à violência de gênero no Distrito Federal, que, em seu fazer orientado, possui suas lógicas próprias e que, a um só tempo, responde às necessidades internas e frustra as expectativas das vítimas. A hipótese é que ainda há um distanciamento entre as finalidades buscadas pelas vítimas e o atendimento jurídico propiciado pelo sistema judicial. Para essa finalidade, analisa dados e resultados obtidos em pesquisa de campo, na qual, pela observação das rotinas dos operadores jurídicos e de participantes de audiência judicial, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com as vítimas de violência doméstica, antes e após a audiência judicial para manifestação sobre a continuidade do processo, buscando como representavam socialmente os atores jurídicos envolvidos. As representações sociais obtidas indicam juízes anestésicos às pretensões das vítimas, promotores de justiça desconhecidos e defensores públicos ausentes. Além da ausência de assistência jurídica para a vítima, naquele momento, verificou-se uma considerável lacuna entre as pretensões das mulheres vitimizadas e o fazer procedimental judicial, que frustra suas expectativas cognitivas. Lado outro, o cenário indica procedimentos de extinção prematura do processo, por táticas de pressão, que obstam o atendimento jurídico integral anunciado pela Lei Maria da Penha.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Me. Alberto Carvalho Amaral, Universidade de Brasília

Doutorando em Sociologia (UnB – 2018). Mestre em Direito (UniCEUB – 2016). Especialista em Direito Processual (UniSUL – 2009). Especialista em Ciências Penais (UniSUL – 2008). Bacharel em Direito (UniCEUB – 2005). Professor da Escola da Defensoria Pública do Distrito Federal (EASJUR). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Política Criminal (UniCEUB) e de O Direito Achado na Rua (UnB-CNPQ). Idealizador e Coordenador do Curso de Capacitação de Defensoras e Defensores Populares do Distrito Federal (DPDF-UnB). Membro do IBCCrim. Professor universitário. Defensor Público do Distrito Federal.

Referências

AMARAL, Alberto Carvalho. A violência doméstica a partir do olhar das vítimas: reflexões sobre a Lei Maria da Penha em Juízo. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017a.

AMARAL, Alberto Carvalho. Discursos sobre o enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher no Brasil e a (não) aplicação da suspensão condicional do processo. Argumenta Journal Law, Jacarezinho – PR, Brasil, n. 23. p. 95-128. Disponível em:< http://seer.uenp.edu.br/index.php/argumenta/article/view/657>. Acesso em 19 fev. 2021.

AMARAL, Alberto Carvalho. Mulheres, violência de gênero e as dificuldades no acesso às proteções judiciais da Lei Maria da Penha. Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017b.

AMARAL, Alberto Carvalho; BELMONTE AMARAL, Luciana Lombas. Desafios e possibilidades das representações sociais como abordagem teórico-metodológica na pesquisa social contemporânea. 19º Congresso Brasileiro de Sociologia (Anais eletrônicos). Florianópolis, 2019.

ARRUDA, Angela. As representações sociais: desafios de pesquisa. Revista de Ciências Humanas. Florianópolis, especial temática, p. 09-23, 2002.

BASTOS, Aurélio Wander. Conflitos sociais e limites do Poder Judiciário. 2.ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001.

BANDEIRA, Lourdes Maria; MAGALHÃES, Maria José. A transversalidade dos crimes de femicídio/feminicídio no Brasil e em Portugal. Revista da Defensoria Pública do Distrito Federal, vol. 1, n. 1, p. 29-56, 2019.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo regimental no agravo n.º 1380117. Sergipe. Relatora Ministra Laurita Vaz. Quinta Turma. Julgamento em 22.05.2012. DJe publicado em 05.06.2012.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos declaratórios no Recurso Especial n.º 1822250. São Paulo. Relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro. Sexta Turma. Julgado em 5.11.2019. DJe publicado em 11.11.2019.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas corpus n.º 167898. Minas Gerais. Relator Ministro Og Fernandes. Sexta Turma. Julgado em 14.02.2012. DJe publicado em 18.06.2012.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas corpus n.º 179.446. Paraná. Relator Ministro Gilson Dipp. Quinta Turma. Julgado em 3.05.2012. DJe publicado em 10.05.2012.

CHIZZOTTI, Antônio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2000.

CONNELL, Robert W. Masculinities. 2.ed. Cambridge: 1995.

CONNELL, Robert W. Políticas da masculinidade. Educação & Realidade. Vol. 20, n. 2, p. 185-206, jul. 1995.

CONNELL, Robert W.; MESSERSCHMIDT, James W. Masculinidade hegemônica: repensando o conceito. Estudos feministas, Florianópolis, vol. 21, n. 1, p. 241-282, abr. 2013.

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO (CNMP). Relatório da pesquisa de satisfação e imagem do CNMP e do Ministério Público – 2017. Brasília: CNMP, 2017. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/images/Apresentação_da_pesquisa_CNMP_V7.pdf. Acesso em 1 out. 2021.

COSTA, Arthur Trindade Maranhão; MACHADO, Bruno Amaral; ZACKSESKI, Cristina (Orgs.). A investigação e a persecução penal da corrupção e dos delitos econômicos: uma pesquisa empírica no sistema de justiça federal. Tomo I. Brasília: ESMPU, 2016.

DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL (DPDF). Programa voluntários da cidadania. Home page. Disponível em: http://www.defensoria.df.gov.br/programa-voluntarios-da-cidadania/. Acesso em 1 out. 2021.

GARCIA AMADO, Juan Antonio. A sociedade e o Direito na obra de Niklas Luhmann. In: Org. ARNAUD, Andre-Jean; LOPES JÚNIOR, Dalmir (Orgs.). Niklas Luhmann: do sistema social à sociologia jurídica. Tradução de Dalmir Lopes Jr., Daniele Andréa da Silva Manão e Flávio Elias Riche, p. 301-344. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.

LARRAURI, Elena. ¿Por qué retiran las mujeres maltratadas las denuncias? Revista de Derecho Penal y Criminología, 2.a Época. Madrid, n.º 12, p. 271-307, jan. 2003.

LEFEVRE, Fernando; LEFEVRE, Ana Maria Cavalcanti. O sujeito coletivo que fala. Interface, Botucatu, v. 10, n. 20, Dez. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832006000200017&lng=en&nrm=iso. Acesso em 20 maio. 2021.

LIMA, Fausto Rodrigues de. Dos procedimentos – arts. 13 a 17. In: Lei Maria da Penha comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

LUHMANN, Niklas. El derecho de la sociedad. Trad. Javier Torres Nafarrate. Cidade do México: Herder, 2005.

LUHMANN, Niklas. La ciencia de la sociedad. Trad. Silvia Pappe, Brunhilde Erker y Luis Felipe Segura. Coord. Javier Torres Nafarrate. Mexico: Anthropos/Universidade Iberoamericana, 1996.

LUHMANN, Niklas. Organización y decisión. Cidade do México: Herder, 2010.

MACHADO, Bruno Amaral. Justiça criminal: diferenciação funcional, interações organizacionais e decisões. 1.ed. São Paulo: Marcial Pons, 2014.

MACHADO, Bruno Amaral. Ministério Público: organização, representações e trajetórias. Curitiba: Juruá, 2007.

MACHADO, Bruno Amaral. O inquérito policial e a divisão do trabalho jurídico-penal no Brasil: discursos e práticas. Revista brasileira de segurança pública, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 12-33, fev. 2015. Disponível em: http://revista.forumseguranca.org.br/index.php/rbsp/article/viewFile/439/189. Acesso em 8 out. 2021.

MACHADO, Bruno Amaral; PORTO, Maria Stela Grossi. Homicídio na área metropolitana de Brasília: Representações Sociais dos Delegados de Polícia, Promotores de Justiça e Magistrados. Sociologias, Porto Alegre, ano 17, n. 40, set/dez 2015, p. 294-325.

MATHIS, Armin. A sociedade na teoria dos sistemas de Niklas Luhmann. In: XXII ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 27 a 31 de outubro, 1998, Caxambu. Anais... Disponível em: <http://portal.anpocs.org/portal/index.php?option=com_docman&task =doc_download&gid=5173&Itemid=217>. Acesso em 10 jan. 2021.

MELO, Karine. CNJ comemora sucesso de audiências e sessões por videoconferência: sistema lançado durante a pandemia resultou em aumento de produtividade. Agência Brasil, 8 ago. 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2020-08/cnj-comemora-sucesso-de-audiencias-e-sessoes-por-videoconferencia.

MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO (MPU). Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Corregedoria-Geral. Análise estatística. Disponível em: https://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/nucleos/nucleo_genero/estatisticas/Estatistica_VD_2020_NG_MPDFT.pdf. Acesso em 15 set. 2021.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. Trad. Pedrinho A. Guareschi. 10.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.

PIRES, José Calixto de Souza; MACEDO, Kátia Barbosa. Cultura organizacional em organizações públicas no Brasil. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p. 81-104, fev. 2006.

PORTO, Maria Stela Grossi. Fluxos e dinâmicas do sistema de justiça criminal nas representações sociais dos operadores envolvidos. Revista Brasileira de Segurança Pública. São Paulo, v. 9, n. 1, 82-100, fev./mar. 2015.

QUEIROZ, Marisse Costa de. O Direito como sistema autopoiético: contribuições para a Sociologia Jurídica. Seqüência: Estudos Jurídicos e Políticos, Florianópolis, p. 77-92, jan. 2003.

SÁNCHES RUBIO, David. Repensar derechos humanos: de la anestesia a la sinestesia. Sevilha: Editorial MAD, 2007.

SEGATO, Rita Laura. Antropologia e direitos humanos: alteridade e ética no movimento de expansão dos direitos universais. Mana, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 207-236, abr. 2006.

SEGATO, Rita Laura. Femi-geno-cídio como crimen en el fuero internacional de los Derechos Humanos: el derecho a nombrar el sufrimiento en el derecho. Disponível em:<http://www.feminicidio.net/sites/default/files/femigenocidio.pdf>. Acesso em 16 fev. 2021.

SOUSA JUNIOR, José Geraldo de; AMARAL, Alberto Carvalho; RAMPIN, Talita Tatiana Dias. Exigências críticas para uma defensoria pública e popular: contribuições desde O Direito Achado na Rua. In: SIMÕES, Lucas Diz; MORAIS, Flávia Marcelle Torres Ferreira de; FRANCISQUINI, Diego Escobar (Org.) Defensoria Pública e a tutela estratégica dos coletivamente vulnerabilizados. Belo Horizonte: D’Plácido, 2019.

SUXBERGER, Antonio Henrique Graciano; AMARAL, Alberto Carvalho. A defensoria pública como garantia constitucional processual de acesso à justiça na América do Sul. Rev. Bras. Polít. Públicas, Brasília, v. 6, nº 2, p. 116-131, 2016.

Downloads

Publicado

2024-06-25

Como Citar

Amaral, M. A. C. (2024). Compreendendo o sistema de enfrentamento à violência de gênero contra a mulher no Distrito Federal a partir das representações sociais das vítimas. Revista Brasileira De Ciências Criminais, 198(198), 263–302. Recuperado de https://publicacoes.ibccrim.org.br/index.php/RBCCRIM/article/view/29

Métricas