Controle social e novas tecnologias: por um debate ético

Visualizações: 27

Autores

Palavras-chave:

Controle social, Atuarialismo, Privacidade, Inteligência artificial, Seletividade penal

Resumo

Tendo em vista o largo desenvolvimento tecnológico das últimas décadas, o atuarialismo reinante ante a gestão de setores sociais de risco, e o emprego maciço de técnicas de inteligência artificial para fins de controle, especialmente penal, o presente artigo sustenta que, malgrado a evolução legislativa brasileira em matéria de privacidade e proteção de dados pessoais, não se pode prescidir da crítica à expansão da teia de controle, particularmente perigosa quando colocados em tela anseios tão arraigados quanto aquele da segurança a (quase) qualquer custo. Ainda, esta análise pretende demonstrar que são vários – e, talvez, irremediáveis – os riscos e problemas inerentes à banalização da inteligência artificial como técnica de controle, mormente no que diz respeito aos danos decorrentes da falta de transparência; à ilusão de eficiência vinculada a técnicas de predição; à problemática dos vieses algorítmicos e da discriminação; e à questão da seletividade – própria do sistema penal e potencializada pelas máquinas –, bem como de todos os seus efeitos adversos, sobretudo no que se refere ao alargamento das distorções do sistema carcerário brasileiro e à incapacitação, no limite, de comunidades inteiras, sem que haja prevenção real da criminalidade de fato. Torna-se urgente, nesse sentido, um debate ético.   

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Me. Marina Lima Ferreira, Universidade de São Paulo - USP - São Paulo/SP

Doutoranda em Direito Penal pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Direito Penal pela mesma instituição (2020). Dupla-graduação em direito pela Université de Lyon II, França (2017). Bacharel em direito pela USP (2015). Associada ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) e ao Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD). Advogada em São Paulo (SP). Link para currículo LATTES: http://lattes.cnpq.br/0455529435916299

Me. Fernando Bousso, Internet Advertising Bureau - IAB Brasil

Mestre em Computer and Communications Law pela Queen Mary, University of London (2015). Bacharel em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2011). Membro do Comitê Jurídico e de Proteção de Dados do IAB Brasil Internet Advertising Bureau. Membro atuante da International Association of Privacy Professionals (IAPP). Advogado em São Paulo (SP). Link para currículo LATTES: http://lattes.cnpq.br/6645254699696450

Referências

Referências

ALVAREZ, Marcos César. Bacharéis, criminologistas e juristas: saber jurídico e nova escola penal no Brasil. São Paulo: Método, 2003.

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. Introdução à sociologia do direito penal. 6. Ed., Rio de Janeiro: Revan, 2011.

BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11ª Ed., Rio de Janeiro: Revan, 2007.

____________. Pena pública e escravismo. Cap. Crim. Vol. 34, nº 3 (Jul./Set. 2006), pp. 279-321.

CASTRO, Lola Anyar. Criminologia da libertação. Rio de Janeiro: Revan: ICC, 2005.

CHIAO, Vincent. Fairness, accountability and transparency: notes on algorithmic decision-making in criminal justice. In International Journal of the Law in Context. Cambridge: Cambridge University Press, 15(2), 2019, pp. 126-139.

DE GIORGI, Alessandro. A miséria governada através do sistema penal. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2006.

DIETER, Maurício Stegemann. Política criminal atuarial: a criminologia do fim da história.

Tese (Doutorado) – Faculdade de direito da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2012.

DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais: elementos da formação da Lei Geral de Proteção de Dados. São Paulo: Thompson Reuters Brasil, 2019.

DONEDA, Danilo; SARLET, Ingo Wolfgang; MENDES, Laura Schertel; RODRIGUES JUNIOR, Otavio Luiz. Tratado de proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro: Forense, 2021.

DUSSEL, Enrique. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2000.

EDWARDS, Lilian; VEALE, Michael. Slave to the algorithm? Why a ‘right to an explanation’ is probably not the remedy you are looking for. In Duke Law and Technology Review, Durham: Duke Law and Technology Review, vol. 16, 2017, pp. 18-84.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 25. Ed., São Paulo: Graal, 2012.

FRY, Hannah. Hello world: being human in the age of algorithms. New York: W. W. Norton & Company, 2018.

GARRETT, Brandon L. Convicting the innocent: where criminal prosecutions go wrong. Cambridge: Harvard University Press, 2011.

HARCOURT, Bernard E. Against prediction: profiling, policing, and punishing in an actuarial age. Chicago: The University of Chicago Press, 2007, 336 p.

HORNUNG, Gerrit; SCHNABEL, Christoph. Data protection in Germany I: the population census decision and the right to informational self-determination. In Computer Law & Security Review, London: Sweet & Maxwell, 2009, vol. 25, pp. 84-88.

IGO, Sarah E. The unknown citizen: a history of privacy in modern America. Cambridge: Harvard University Press, 2018.

KAPLOW, Louis; SHAVELL, Steven. Economic analysis of law. In Handbook of Public Economics. Amsterdam: Elsevier, 2002, vol. 3, pp. 1661-1784.

KOUTSIAS, Marios. Privacy and data protection in an information society: how reconciled are the English with the European Union privacy norms? In Computer and Telecommunications Law Review, London: Sweet & Maxwell, 2012, 18(8), pp. 261-270.

LYNSKEY, Orla. Criminal justice profiling and EU data protection law: precarious protection from predictive policing. In International Journal of the Law in Context, Cambridge: Cambridge University Press, 2019, pp. 162-176.

MANNING, Peter K. The technology of policing: crime mapping, information technology, and the rationality of crime control. New York and London: New York University Press, 2008.

MATTHEWS, Roger. Realist criminology. London: Palgrave Macmillan, 2014.

MELOSSI, Dario; PAVARINI, Massimo. Cárcere e fábrica: as origens do sistema penitenciário (séculos XVI-XIX). 2. Ed., Rio de Janeiro: Revan, 2010.

MONTEIRO, Renato Leite. Existe um direito à explicação na Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil? In Instituto Igarapé. Artigo estratégico n. 39, dez. 2018.

O’BEIRNE, Brian. The European Court of Human Rights' recent expansion of the right of privacy: a positive development? In Coventry Law Journal, Coventry: Coventry University, 2009, 14(2), pp. 14-22.

RODOTÀ, Stefano. Tecnologie e diritti. Bologna: Mulino, 1995.

RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2. Ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004.

SANTOS, Juarez Cirino dos. A criminologia da repressão: uma crítica ao positivismo em criminologia. Rio de Janeiro: Forense, 1979.

SALLA, Fernando. As prisões em São Paulo: 1822-1940. São Paulo: Annablume/Fapesp, 1999.

SIMÃO, Bárbara; FRAGOSO, Nathalie; ROBERTO, Enrico; Reconhecimento facial e o setor privado: guia para a adoção de boas práticas. InternetLab/IDEC, São Paulo, 2020.

TAYLOR, Roger. No privacy without transparency. In LEENES, Ronald; VAN BRAKEL, Rosamunde; GUTWIRTH, Serge; DE HERT, Paul. Data protection and privacy: the age of intelligent machines. Oxford: Hart Publishing, 2017.

WARREN, Samuel D.; BRANDEIS, Louis D. The right to privacy. In Harvard Law Review, Cambridge: The Harvard Law Review Association, 1890, vol. 4, n. 5, pp. 193-220.

WILLIS, Graham Denyer. The killing consensus: police, organized crime, and the regulation of life and death in Urban Brazil. Oakland: University of California Press, 2015.

YOUNG, Jock. From inclusive to exclusive society: nightmares in the European dream. In The new European criminology: crime and social order in Europe. London and New York: Routledge, 1998, pp. 64-91.

YU, Ronald; ALI, Gabriele Spina. What’s inside the black box? AI challenges for lawyers and researchers. In Legal Information Management, Cambridge: Cambridge University Press, 19 (1), 2019, pp. 2-13.

Referências da internet

ALISSON, Elton. Sistema usa inteligência artificial para prever ocorrências de crimes em áreas urbanas. Agência FAPESP, São Paulo, 31 jul. 2020. Disponível em: https://agencia.fapesp.br/sistema-usa-inteligencia-artificial-para-prever-ocorrencias-de-crimes-em-areas-urbanas/33768/. Acesso em: 25 mar. 2021.

ANGWIN, Julia; LARSON, Jeff; MATTU, Surya. Machine Bias: there’s software used across the country to predict future criminals. And it’s biased against blacks. ProPublica, New York, 23 mai. 2016. Disponível em: https://www.propublica.org/article/machine-bias-risk-assessments-in-criminal-sentencing. Acesso em: 26 mar. 2021.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Anteprojeto de Lei de Proteção de Dados para segurança pública e persecução penal, 2020. Disponível em: https://static.poder360.com.br/2020/11/DADOS-Anteprojeto-comissao-protecao-dados-seguranca-persecucao-FINAL.pdf. Acesso em: 24 mar. 2021.

BURT, Chris. Investigation reveals Dahua biometric systems sent ethnicity warnings to Chinese police. BiometricUpdate.com, Toronto, 10 fev. 2021. Disponível em: https://www.biometricupdate.com/202102/investigation-reveals-dahua-biometric-systems-sent-ethnicity-warnings-to-chinese-police. Acesso em: 28 mar. 2021.

CHANG, Cindy. LAPD officials defend predictive policing as activists call for its end. Los Angeles Times, Los Angeles, 24 jul. 2018. Disponível em: https://www.latimes.com/local/lanow/la-me-lapd-data-policing-20180724-story.html.

HAO, Karen. This i show AI bias really happens – and why it’s so hard to fix. MIT Technology Review, Massachusetts, 4 fev. 2019. Disponível em: https://www.technologyreview.com/2019/02/04/137602/this-is-how-ai-bias-really-happensand-why-its-so-hard-to-fix/. Acesso em: 26 mar. 2021.

HILL, Kashmir. Your face is not your own. The New York Times, New York, 18 mar. 2021. Disponível em: https://www.nytimes.com/interactive/2021/03/18/magazine/facial-recognition-clearview-ai.html?smid=li-share. Acesso em: 29 mar. 2021.

INFOPEN. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias, jun. 2018. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/noticias/sistema-carcerario-brasileiro-negros-e-pobres-na-prisao. Acesso em: 23 mar. 2021.

INSTITUTO DE DEFESA DO DIREITO DE DEFESA. Monitoramento das audiências de custódia em São Paulo. São Paulo, SP, 2016. Disponível em: http://www.iddd.org.br/wp-content/uploads/2016/05/Relatorio-AC-SP.pdf. Acesso em: 28 mar. 2021.

MEISSNER, Christian A.; BRIGHAM, John C. Thirty years of investigating the own-race bias in memory for faces: a meta-analytic review. Psychology, Public Policy, and Law, vol. 7, n. 1, 2001, 3-17. In SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Habeas Corpus 619.327/RJ. Disponível em: http://www.iddd.org.br/wp-content/uploads/2020/12/amicus-tiago-vianna-final-sem-assinaturas.pdf. Acesso em: 26 mar. 2021.

PICCHI, Aimee. How tech’s white male workforce feeds bias into AI. CBS News, New York, 17 abr. 2019. Disponível em: https://www.cbsnews.com/news/ai-bias-problem-techs-white-male-workforce/. Acesso em: 26 mar. 2021.

PRUDENTE, Eunice. Dados do IBGE mostram que 54% da população brasileira é negra. Jornal da USP, São Paulo, 31 jul. 2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/radio-usp/dados-do-ibge-mostram-que-54-da-populacao-brasileira-e-negra/. Acesso em: 24 mar. 2021.

REBELLO, Aiuri. Bancada do PSL vai à China conhecer sistema que reconhece rosto de cidadãos. Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 jan. 2019. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/01/bancada-do-psl-vai-a-china-importar-sistema-que-reconhece-rosto-de-cidadaos.shtml. Acesso em: 24 mar. 2021.

REDE DE OBSERVATÓRIOS DE SEGURANÇA. A cor da violência policial: a bala não erra o alvo. Rio de Janeiro: Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, 2020. Disponível em: http://observatorioseguranca.com.br/wp-content/uploads/2020/12/A-Cor-da-Violência-Policial-A-Bala-Não-Erra-o-Alvo.pdf. Acesso em: 27 mar. 2020.

UNIÃO EUROPEIA. Regulation (EU) 2016/679 of the European Parliament and of the Council. 27 abr. 2016. Official Journal of the European Union. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016R0679. Acesso em: 29 mar. 2021.

UNIÃO EUROPEIA. Regulation (EU) 2016/680 of the European Parliament and of the Council. 27 abr. 2016. Official Journal of the European Union. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016L0680&from=EN. Acesso em: 29 mar. 2021.

WINSTON, Ali. Transparency advocates win release of NYPD “predictive policing” documents. The Intercept, Los Angeles, 27 jan. 2018. Disponível em: https://theintercept.com/2018/01/27/nypd-predictive-policing-documents-lawsuit-crime-forecasting-brennan/. Acesso em: 29 mar. 2021.

Publicado

2024-06-27

Como Citar

Lima Ferreira, M. M. ., & Bousso, M. F. . (2024). Controle social e novas tecnologias: por um debate ético. Revista Brasileira De Ciências Criminais, 193(193). Recuperado de https://publicacoes.ibccrim.org.br/index.php/RBCCRIM/article/view/323

Métricas