“Quando dizer é fazer”:

uma linguagem feminicida compartilhada em casos de assassinatos de mulheres no estado do Paraná

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Autores

  • Profa. Dra. Priscilla Placha Sá Universidade Federal do Paraná, UFPR, Brasil https://orcid.org/0000-0002-3697-4590
  • Prof. Dr. Bruno do Amaral Machado Centro Universitário de Brasília, UniCEUB, Brasil
  • Profa. Dra. Soraia da Rosa Mendes Centro Universitário de Brasília, UniCEUB, Brasil https://orcid.org/0000-0002-6188-9216

DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.13685124

Palavras-chave:

Feminicídio, Linguagem, Crueldade

Resumo

O artigo parte da hipótese de que há uma linguagem feminicida – como regime de comunicação – nos casos de feminicídio doméstico ou íntimo, que é compartilhada tanto pelo que se fala quanto pelo que se faz, inscrita na pedagogia da crueldade. A fim de explicar a questão apresentam-se, para além da base teórica que sustenta a reflexão, resultados de pesquisa com método quantitativo-qualitativo, indicando a presença de qualificadoras relativas ao meio e ao modo de realização de feminicídios tentados e consumados identificados em uma amostra inicial de 300 casos com denúncia oferecida perante o sistema de justiça criminal do Estado do Paraná. Desses casos, em que prevalecem as ocorrências no ambiente doméstico e tendo no autor alguém com relacionamento pretérito ou atual, ou pessoas do sexo masculino do grupo familiar, percebe-se que o uso da violência extrema é partilhado pelos homens; nesse ponto, perquirirem-se as motivações que envolvem os fatos, sobretudo estudando casos com indicação de insanidade mental ou suicídio – tentado ou consumado. Desse conjunto, o dizer e o fazer permitem afirmar rastros de uma linguagem feminicida em elementos comuns entre si, especialmente através expressões e motivações que ratificam a existência de um regime de comunicação fratriárquica entre sujeitos desconhecidos.

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Biografia do Autor

Profa. Dra. Priscilla Placha Sá, Universidade Federal do Paraná, UFPR, Brasil

Doutora em Direito do Estado pela UFPR (2013). Mestra em Direito Econômico e Social pela PUCPR (2005). Especialista em Direito Processual Penal pela PUCPR (2002). Graduação em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba (1999). Professora Adjunta de Direito Penal da PUCPR (licenciada). Professora Adjunta de Direito Penal da UFPR. Professora Colaboradora do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito da UFPR. Vice-Chefia do Departamento de Direito Penal e Processual Penal da UFPR. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5772348783494506

Prof. Dr. Bruno do Amaral Machado, Centro Universitário de Brasília, UniCEUB, Brasil

Professor da graduação e dos Programas de Mestrado e Doutorado em Direito do Uniceub. Master Europeu Sistema Penal e Problemas Sociais e Doutor em Direito (especialidade Sociologia Jurídico-penal) pela Universidade de Barcelona. Estágio de pós-doutorado no Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília. Promotor de Justiça do MPDFT. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6719883195099829

Profa. Dra. Soraia da Rosa Mendes, Centro Universitário de Brasília, UniCEUB, Brasil

Pós-Doutora em Teorias Jurídicas Contemporâneas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Doutora em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília - UnB. Mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Professora Associada do PPG Mestrado e Doutorado em Direito do Centro Unificado de Brasília -UniCeub. Advogada criminalista especialista em direitos das mulheres. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6101794465780378

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Publicado

2024-12-12

Como Citar

Placha Sá, P. D. P., Amaral Machado, B., & da Rosa Mendes, S. (2024). “Quando dizer é fazer”:: uma linguagem feminicida compartilhada em casos de assassinatos de mulheres no estado do Paraná. Revista Brasileira De Ciências Criminais, 205(205). https://doi.org/10.5281/zenodo.13685124

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