Sobre as caracterizações da dúvida e da certeza na dogmática jurídico-criminal:

o dolo eventual perspectivado como uma espécie de dolo excessivamente duvidoso

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DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.13693243

Palavras-chave:

Dolo eventual., dúvida, certeza, dogmática, democracia

Resumo

O presente artigo tem como objetivo principal demonstrar que o dolo encarado como eventual possui um nível de indefinição conceitual que tem o potencial de afetar sua validade no ambiente dogmático que se apresenta como democrático. A principal hipótese apresentada está consubstanciada na ideia de que essa categoria dogmática possui características excessivamente duvidosas para se sustentar validamente em uma democracia, sobretudo quando se pretende utilizá-la para punição junto com outras categorias, como é o caso da tentativa. A partir do método hipotético-dedutivo, com o auxílio da revisão de literatura, amparando-se especialmente na legislação portuguesa, conclui-se que, embora admitido no ordenamento jurídico de diversos países, a articulação entre o dolo eventual e a negligência consciente deve ser guiada pelo critério do in dubio pro liberdade.      

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Biografia do Autor

Prof. Dr. Francisco França Júnior, Centro Universitário Cesmac (Maceió/AL) e Universidade de Coimbra (PT)

Doutor e Mestre pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal (com revalidação pela UFRN); Pesquisador visitante no Max-Planck-Institut für ausländisches und internationales Strafrecht, em Freiburg, na Alemanha; Professor de Direito Penal, Processo Penal e Criminologia desde 2006 no Centro Universitário CESMAC (Maceió/AL); É também advogado de defesa. Link Lattes/CV: http://lattes.cnpq.br/2739102277898461

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Publicado

2024-12-12

Como Citar

França Júnior, F. (2024). Sobre as caracterizações da dúvida e da certeza na dogmática jurídico-criminal:: o dolo eventual perspectivado como uma espécie de dolo excessivamente duvidoso. Revista Brasileira De Ciências Criminais, 205(205). https://doi.org/10.5281/zenodo.13693243

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