Itinerários processuais anteriores ao feminicídio: Os limites da prevenção terciária

Vistas: 106

Autores/as

  • Thiago Pierobom de Ávila Centro Universitário de Brasília – UniCEUB
  • Thais Quezado Soares Magalhães Ministério Público do Distrito Federal e Territórios: Brasília, Distrito Federal, BR

Palabras clave:

Feminicídio, Violência doméstica, Análise longitudinal retrospectiva, Prevenção terciária

Resumen

Este estudo objetivou problematizar as estratégias de prevenção terciária de feminicídio. Realizou-se pesquisa documental, com método quantitativo e qualitativo, de análise longitudinal retrospectiva de processos judiciais anteriores à prática de feminicídios consumados em contexto de violência doméstica e familiar, ocorridos no Distrito Federal, entre 2016 e 2017. Utilizou-se a análise temática. Constatou-se que todos os 34 casos no período foram antecedidos por violências, mas em apenas 11 casos (23,5%) houve registro de ocorrências policiais anteriores. A análise dos processos judiciais derivados destes registros policiais anteriores documentou falhas e limitações do funcionamento do sistema de justiça para a prevenção, o que pode ter colaborado para a escalada da violência ao feminicídio. Nos casos em que houve indeferimento da medida protetiva, a vítima continuou a sofrer violência, mas não voltou a denunciar ao sistema de justiça. Metade dos feminicídios ocorreu num período de nove meses do registro da ocorrência policial inicial. Verificou-se ausência de articulação do sistema de justiça com a rede de proteção às mulheres. Três mulheres requereram revogação das medidas protetivas sob coação do agressor. Em apenas três casos houve a responsabilização do agressor antes do feminicídio. Conclui-se pela necessidade de políticas públicas de prevenção para além da perspectiva punitivista.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Publication Facts

Metric
This article
Other articles
Peer reviewers 
2.4 promedio

Reviewer profiles  N/D

Author statements

Author statements
This article
Other articles
Data availability 
N/A
16%
External funding 
N/D
32% con financiadores
Competing interests 
N/D
11%
Metric
Para esta revista
Other journals
Articles accepted 
Artículos aceptados: 49%
33% aceptado
Days to publication 
93
145

Indexado: {$indexList}

Editor & editorial board
profiles
Editora: 
Editora Revista dos Tribunais (RT)

Biografía del autor/a

Thiago Pierobom de Ávila, Centro Universitário de Brasília – UniCEUB

Pós-Doutorado em Criminologia, Universidade Monash, Melbourne, Austrália (2017)

Doutor em Ciências Jurídico-Criminais, Universidade de Lisboa, Portugal (2015)

Professor Associado do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, DF, Brasil

Professor da Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios – FESMPDFT

Investigador Integrado do Instituto de Direito Penal e Ciências Criminais da Universidade de Lisboa, Portugal

Affiliated Researcher do Monash Gender and Family Violence Prevention Centre, Melbourne, AustráliaPromotor de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Brasília, DF, Brasil

Thais Quezado Soares Magalhães , Ministério Público do Distrito Federal e Territórios: Brasília, Distrito Federal, BR

Mestre em Direitos Humanos pela University College London – UCL (2016)

Chefe dos Núcleos de Direitos Humanos do MPDFT

Citas

ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão de segurança jurídica. 2. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.

ÁVILA, Thiago Pierobom de (Org.). Modelos europeus de enfrentamento à violência de gênero: experiências e representações sociais. Brasília: ESMPU, 2014.

ÁVILA, Thiago Pierobom de. Articulação do trabalho em rede para a proteção à mulher em situação de violência doméstica e familiar. In: BRASIL. Violência contra a mulher: um olhar do Ministério Público brasileiro. Brasília: CNMP, 2018, p. 141-163.

ÁVILA, Thiago Pierobom de. Medidas protetivas da Lei Maria da Penha: natureza jurídica e parâmetros decisórios. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 157, p. 131-172, 2019.

ÁVILA, Thiago Pierobom de; MEDEIROS, Marcela Novais; CHAGAS, Cátia Betânia; VIEIRA, Elaine Novaes; MAGALHÃES, Thais Quezado Soares; PASSETO, Andrea Simoni de Zappa. Políticas públicas de prevenção ao feminicídio e interseccionalidades. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 10, n. 2, p. 375-407, 2020.

AZEVEDO, Rodrigo Ghringhelli et al. Aplicação de medidas protetivas para mulheres em situação de violência nas cidades de Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG) e Recife (PE). In: PARESCHI, Ana Carolina Cambreses; ENGEL, Cíntia Liara; BAPTISTA, Gustavo Camilo (Org.). Direitos humanos, grupos vulneráveis e segurança pública. Brasília: Ministério da Justiça e Cidadania, 2016.

BANDEIRA, Lourdes Maria; THURLER, Ana Liési. A vulnerabilidade da mulher à violência doméstica: aspectos históricos e sociológicos. In: LIMA, Fausto Rodrigues de; SANTOS, Claudiene (Orgs.). Violência doméstica: vulnerabilidades e desafios na intervenção criminal e multidisciplinar. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 159-167.

BEIRAS, Adriano; NASCIMENTO, Marcos; INCROCCI, Caio Henrique de Mendonça Chaves. Grupos reflexivos: notas sobre os desafios para a construção de responsabilização, redução de violência e efetividade de programas para homens autores de violência contra as mulheres. In: PASINATO, Wania; MACHADO, Bruno Amaral; ÁVILA; Thiago Pierobom de (Orgs.). Políticas públicas de prevenção à violência contra a mulher. São Paulo: Marcial Pons, 2019, p. 275-298.

BRASIL. Infopen: painel interativo dezembro/2019. Brasília: Ministério da Justiça, 2019. Disponível em: <http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen>. Acesso em: 25 jun. 2020.

BRASIL. Resolução Conjunta n. 05: institui o formulário nacional de avaliação de risco no âmbito do Poder Judiciário e do Ministério Público. Brasília: CNJ e CNMP, 2020.

BRASIL. STF, ADIN 4424, rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, j. 09 fev. 2012.

BRAUN, Virginia; CLARKE, Victoria. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, v. 3, n. 2, p. 77-101, 2006.

BUZAWA, Eve S. et al. Responding to domestic violence: the integration of criminal justice and human services. 5. ed. Thousand Oaks: SAGE, 2017.

CAPALDI, Deborah M.; KNOBLE, Naomi B.; SHORTT, Joann Wu; KIM, Hyoun K. A systematic review of risk factors for intimate partner violence. Partner Abuse. v. 3, n. 2, 2012, p.231-280.

CARVALHO, José Raimundo; OLIVEIRA, Victor Hugo. Pesquisa de condições socioeconômicas e violência doméstica e familiar contra a mulher: Prevalência da violência doméstica e impacto nas novas gerações. Fortaleza: UFC, 2016.

CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer de; CAMPOS, Carmen Hein de. Sistema de justiça criminal e perspectiva de gênero. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 146, 2018, p. 273-303.

CNJ; IPEA. O Poder Judiciário no enfrentamento à violência doméstica e familiar contra as mulheres. Brasília: CNJ, 2019.

DAWSON, Myrna (Org.). Domestic homicides and death reviews: an international perspective. Londres: Palgrave Macmillan, 2017.

DEBERT, Guita Grin; PERRONE, Tatiana Santos. Questões de poder e as expectativas das vítimas: dilemas da judicialização da violência de gênero. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 150, 2018, p. 423-447.

DIAS, Jorge de Figueiredo. Fundamento, sentido e finalidades da pena criminal. In: Idem. Questões fundamentais de direito penal revisitadas. São Paulo: RT, 1999, p. 87-136.

DINIZ, Débora (Coord.). Avaliação da efetividade da intervenção do sistema de justiça do Distrito Federal para a redução da violência doméstica e familiar contra a mulher. Brasília: Anis e ESMPU, 2014.

DINIZ, Debora; GUMIERI, Sinara. Implementação de medidas protetivas da Lei Maria da Penha no Distrito Federal entre 2006 e 2012. In: PARESCHI, Ana Carolina Cambreses; ENGEL, Cíntia Liara; BAPTISTA, Gustavo Camilo (Org.). Direitos humanos, grupos vulneráveis e segurança pública. Brasília: Ministério da Justiça e Cidadania, 2016, p. 205-231.

DISTRITO FEDERAL. Norma de Serviço n. 01: implanta o protocolo de atendimento de mulheres vítimas de VDFCM. Brasília: CGP/PCDF, 2019.

DISTRITO FEDERAL. Relatório de Violência Doméstica 2017. Brasília: MPDFT, 2018. Disponível em: <https://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/Relat%C3%B3rio_Viol%C3%AAncia_Dom%C3%A9stica_2017_-_MPDFT.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2020.

ELLSBERG, Mary et al. Prevention of violence against women and girls: what does the evidence say? The Lancet, v. 385, n. 9977, 18-24, abril de 2015, Londres. p. 1555-1566.

FBSP (Org.). Práticas de enfrentamento à violência contra as mulheres: experiências desenvolvidas pelos profissionais de segurança pública e do sistema de justiça. São Paulo: FBSP, 2019.

FBSP; DATAFOLHA. Visível e invisível: a vitimização de mulheres no Brasil. 2ª ed. São Paulo: FBSP e Datafolha, 2019.

FLAUZINA, Ana Luiza Pinheiro. Lei Maria da Penha: entre os anseios da resistência e as posturas da militância. In: VVAA. Discursos negros: legislação penal, política criminal e racismo. Brasília: Brado Negro, 2015, p. 115-144.

FORD, David A. Prosecution as a victim power resource: a note on empowering women in violent conjugal relationships. Law and Society Review, v. 25, 1991, p. 313-334.

GODOY, Arilda Schmidt. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n.3, p 20-29, 1995.

GONDOLF, Edward W. Evaluating batterer counseling programs: A difficult task showing some effects and implications. Aggression and Violent Behavior, v. 9, 2004, p. 605-631.

GOODMARK, Leigh. Justice as a tertiary prevention strategy. In: RENZETTI, Claire M.; FOLLINGSTAD, Diane R.; COKER, Ann L. (Eds.). Preventing intimate partner violence: interdisciplinary perspectives. Bristol: Bristol University Press, 2017, p. 185-207.

HEISE, Lori. Whats works to prevent partner violence?: an evidence overview. Londres: STRIVE Research Consortium, 2011.

IPEA; FBSP. Atlas da violência 2019. Brasília: IPEA e FBSP, 2019.

JAKOBS, Gunther. Teoria da pena e suicídio e homicídio a pedido. Trad. Maurício Antonio Ribeiro Lopes. Barueri: Manole, 2003.

KELLY, Liz; WESTMARLAND, Nicole. Domestic violence perpetrators programs: project Mirabal final report. Londres e Durham: London Metropolitan University, Durham University, 2015.

MEDEIROS, Marcela Novais. Avaliação de risco em casos de violência contra a mulher perpetrada por parceiro íntimo. Brasília: Universidade de Brasília (tese de doutorado), 2015.

MELLO, Marília Montenegro Pessoa de; ROSENBLATT, Fernanda Cruz da Fonseca; MEDEIROS, Carolina Salazar L’Armée Queiroga de (Coords.). Entre práticas retributivas e restaurativas: a Lei Maria da Penha e os avanços e desafios do Poder Judiciário. Brasília: CNJ, 2018.

MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia feminista: novos paradigmas. São Paulo: Saraiva, 2017.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Relatório mundial sobre violência e saúde. Genebra: OMS. 2002.

ONU MULHERES; BRASIL. Diretrizes nacionais feminicídio: investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres. Brasília: ONU, SPM/PR e Senasp/MJ, 2016.

PASINATO, Wania et al. Medidas protetivas para as mulheres em situação de violência doméstica. In: PARESCHI, Ana Carolina Cambreses; ENGEL, Cíntia Liara; BAPTISTA, Gustavo Camilo (Org.). Direitos humanos, grupos vulneráveis e segurança pública. Brasília: Ministério da Justiça e Cidadania, 2016.

PASINATO, Wania; MACHADO, Bruno Amaral; ÁVILA; Thiago Pierobom de (Orgs.). Políticas públicas de prevenção à violência contra a mulher. São Paulo: Marcial Pons, 2019.

RAVAZZOLA, Maria Cristina. Historias infames: los maltratos en las relaciones. Buenos Aires: Paidós, 1997.

ROMERO, Teresa Incháustegui. Sociología y política del feminicídio: algunas claves interpretativas a partir de caso mexicano. Revista Sociedade e Estado, v. 29, n. 2, 2014, p. 373-400.

ROXIN, Claus. Problemas fundamentais de direito penal. Trad. Ana Paula dos Santos Luís Natscheradetz. Lisboa: Vega, 1998.

SABADELL, Ana Lucia; PAIVA, Lívia de Meira Lima. Diálogos entre feminismo e criminologia crítica na violência doméstica: justiça restaurativa e medidas protetivas de urgência. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 153, 2019, p. 173-206.

SHECAIRA, Sérgio Salomão; IFANGER, Fernanda Carolina de Araujo. Uma crítica ao uso do sistema penal no enfrentamento da violência contra a mulher. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 161, 2019, p. 309-329.

SILVA, Anne Caroline Luz Grüdtner da. Violência por parceiro íntimo: o acompanhamento ao homem autor de violência. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina (Tese de doutorado), 2016.

SOUZA, Iara Rabelo de; XIMENES, Julia Maurmann. A percepção do condenado sobre a violência contra a mulher: a dominação na cultura de gênero. Revista Brasileira de Ciências Criminais, v. 146, 2018, p. 373-396.

SOUZA, Luanna Tomaz; LOPES, Anna Beatriz Alves; SILVA, Andrey Ferreira. O NEAH e a atenção ao autor de violência doméstica e familiar contra a mulher em Belém. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 8, n. 1, p. 377-395, 2018.

WALKER, Lenore E. The Battered Woman. Nova Iorque: Harper and Row, 1979.

ZANELLO, Valeska. Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação. Curitiba: Appris, 2018.

Publicado

2022-02-10

Cómo citar

Pierobom de Ávila, T. ., & Quezado Soares Magalhães , T. . (2022). Itinerários processuais anteriores ao feminicídio: Os limites da prevenção terciária. Revista Brasileña De Ciencias Penales, 187(187), 355–395. Recuperado a partir de https://publicacoes.ibccrim.org.br/index.php/RBCCRIM/article/view/54