O cacique Serere como capital cultural dos protestos antidemocráticos brasileiros:

o prenúncio dos ataques golpistas de janeiro de 2023

Resumo

Examinamos como a prisão de José Acácio Serere Xavante, indígena conhecido pelo epíteto de “Cacique Serere”, ocorrida aos 12 de dezembro de 2022, atuou como capital cultural institucionalizado para os manifestantes bolsonaristas arregimentarem suas mobilizações antidemocráticas, por inconformidade com o resultado das eleições presidenciais de 2022 (que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva), bem como serviu para profetizar os ataques antidemocráticos à Praça dos Três Poderes, em Brasília/DF, aos 8 de janeiro de 2023. A partir da teoria de Pierre Bourdieu, analisamos como a identidade étnica do Cacique Serere foi associada às imprecisas dimensões de patriotismo (ainda que altamente ideologizadas pelos manifestantes), apresentando-se como um capital cultural e, logo, parte integrante de um habitus que levaria às tentativas de ruptura à democracia no Brasil. A prisão do indígena foi atrelada às insatisfações dos golpistas com o sistema político-institucional e pode ser vista como um capital cultural institucionalizado que provocou efeitos nos campos político e social dos manifestantes, cujas consequências permitiam antever reações quando da posse definitiva do Presidente Lula, em 2023. Adota-se o método qualitativo.