O corpo negro e o racismo na conversão da prisão em flagrante em preventiva:

baixa cognição de autoria, verdade e suas limitações – descolonizando o processo penal

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DOI:

https://doi.org/10.5281/zenodo.13693623

Palavras-chave:

Criminologia, Prisão em Flagrante, Prisão Preventiva, Processo Penal Crítico, Descolonialismo

Resumo

Pelo fato de que se tem na prisão em flagrante uma perspectiva de que a pessoa presa é a autora imediata do delito (art. 302, I e II, do CPP), traz consigo o que se reconhece doutrinariamente como elemento de evidência. A evidência é responsável por instalar um importante paradoxo no sistema de justiça criminal, de um lado envolve a verdade real sobre o crime e, de outro lado, um sistema pautado na racionalidade empreendida na correção dos elementos apresentados pela evidência, com a observância do curso da instrução criminal. Além da precariedade da evidência, verifica-se que o racismo engenhado no sistema de justiça criminal se apresenta como um elemento de certeza da prática do crime, fazendo com que corpos negros sejam os preferidos para serem encarcerados. O critério racial tem sido utilizado como meio decisional, muito embora algumas vezes não escrito, nem mesmo dito, mas, serve como elemento de convicção do julgador, tendo preferência pela conversão da prisão em flagrante pela preventiva quando o acusado é negro. Desse modo, questiona-se: a baixa cognição acerca da evidência, conjugada ao racismo estrutural, é suficiente para se decidir pela conversão da prisão flagrancial em preventiva? Os aspectos raciais das decisões serão objeto de análise nesta pesquisa, além da análise da baixa cognição da autoria pela evidência e as limitações da verdade no processo penal.

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Editora Revista dos Tribunais (RT)

Biografia do Autor

Prof. Me. Antônio Leonardo Amorim , Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil

Doutorando em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, bolsista CAPES (2022), Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2017-2019), bolsista CAPES durante o período do mestrado (2017-2018), Especialista em Direito Penal e Processo Penal (2017-2018), Professor no Curso de Direito da UNEMAT, Advogado Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5692695774578222 

Prof. Dr. Francisco Quintanilha Veras Neto , Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil

Doutor em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná (2004), Pós-Doutor em Direito pela UFSC (2014). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal de Santa Catarina nas disciplinas de Filosofia do Direito e Teoria do Direito II. Professor permanente no programa de Mestrado e Doutorado em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0352810627424925

Prof. Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth , Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, UNIJUÍ, Brasil

Doutor e Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal e Bacharel em Direito pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito – Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos – da UNIJUÍ. Professor do Curso de Graduação em Direito da UNIJUÍ. Pesquisador Gaúcho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0354947255136468

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Publicado

2025-04-14

Como Citar

Amorim, A. L., Veras Neto, F. Q., & Wermuth , M. Ângelo D. (2025). O corpo negro e o racismo na conversão da prisão em flagrante em preventiva: : baixa cognição de autoria, verdade e suas limitações – descolonizando o processo penal. Revista Brasileira De Ciências Criminais, 207(207), 211–237. https://doi.org/10.5281/zenodo.13693623

Edição

Seção

Processo penal