Usos e abusos do conceito de “periculosidade” e os direitos humanos de pessoas com deficiência em conflito com a lei penal a partir de um estudo de caso
Visualizações: 61DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.14419811Palavras-chave:
direitos fundamentais, garantismo penal, funcionalismo penal, poder punitivo, proteção deficiente., inimputabilidade, Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)Resumo
A partir de estudo de caso único, pretendeu-se avaliar nesta pesquisa como a inefetividade do conjunto normativo assecuratório dos direitos humanos de pessoas com deficiência resultou em violência contra pessoa com essa condição, acusada de ter praticado uma infração penal. Práticas e discursos empreendidos pontualmente pelas instituições jurídicas intervenientes no caso foram analisadas sob a perspectiva analítica da teoria crítica dos direitos humanos referenciada por Joaquín Herrera Flores (2009) e do constitucionalismo multinível. Trata-se de pesquisa exploratória e, quanto à natureza do método, qualitativa. Quanto aos meios empregados, empregou-se além da pesquisa bibliográfica e documental, a técnica de estudo de caso, considerada como recurso promissor a acudir o problema de pesquisa. Ao final, concluiu-se que a audiência de custódia é oportunidade decisiva para conferir efetividade às normas de direitos humanos de pessoas com deficiência em conflito com a lei penal, bem como que a violência resultante da inaplicabilidade normativa decorreu do desempenho das instituições intervenientes, preso à categoria jurídico-penal da “periculosidade”, e a urgência de superar o ideário higienista.
Downloads
Publication Facts
Reviewer profiles Indisp.
Author statements
Indexed in
- Academic society
- Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
- Publisher
- Editora Revista dos Tribunais (RT)
Referências
ALTO COMISSARIADO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS REFUGIADOS (ACNUR). Reglas de Brasilia sobre acceso a la justicia de las personas en condición de vulnerabilidad. 2008. Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/BDL/2009/7037.pdf. Acesso em: 14 jul. 2024;
AN-NAAIM, Abdullahi. Interview. Muslims must realize that there is nothing magical about the concept of human rights. In: Noor, Farish A. New Voices of Islam. Isim Paper, 2002, p. 5-13;
ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Tradução de André Duarte. Rio de Janeiro: RelumeDumará, 1994;
AVELÃS NUNES, António José. Neoliberalismo e direitos humanos. Revista da Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, [S. l.], v. 98, p. 423–462, 2003. Disponível em: https://revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67596. Acesso em: 18 jul. 2024;
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Edições 70: Lisboa, 1977;
NISIIDE, Ana Carolina Becker; BAGATIN, Thiago; BOARINI, Maria Lucia. O imbróglio da periculosidade na manutenção dos manicômios judiciários: as decisões dos desembargadores paranaenses. Revista Em Pauta: teoria social e realidade contemporânea, [S. l.], v. 22, n. 54, 2024. DOI: 10.12957/rep.2024.80310. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/revistaempauta/article/view/80310. Acesso em: 9 jul. 2024;
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 487, de 15 de fevereiro de 2023. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/files/original2015232023022863fe60db44835.pdf. Acesso em: 3 jul. 2024;
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.192, de 9 de dezembro de 2019. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2019/prt3192_10_12_2019.html. Acesso em: 17 jul. 2024;
BRASIL. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto n. 1.132, de 22 de dezembro de 1903. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-1132-22-dezembro-1903-585004-publicacaooriginal-107902-pl.html. Acesso em: 14 jul. 2024;
BRASIL. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição Federal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 16 jul. 2024;
BRASIL. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto-lei n. 4.657 de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm. Acesso em: 16 jul. 2024;
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução n. 213, de 15 de dezembro de 2015. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/2234. Acesso em: 3 jul. 2024;
BRASIL. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 14 jul. 2024;
CAMBI, Eduardo; PORTO, Letícia de Andrade; FOGAÇA, Anderson Ricardo. Constitucionalismo multinível e controle de convencionalidade. Revista dos Tribunais: RT, São Paulo, v. 111, n. 1039, p. 103-126, maio 2022;
______. PORTO, Letícia de Andrade; FACHIN, Melina Girardi. O Supremo Tribunal Federal e a construção do constitucionalismo multinível. Suprema: Revista de estudos constitucionais, Brasília, v. 1, n. 2, p. 113‑150, jul./dez. 2021;
CASTELO BRANCO, Thaynara. A (des)legitimação das medidas de segurança no Brasil. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018;
FACHIN, Melina Girardi; RAMOS, Catarina M. V. O vírus do neoliberalismo: o constitucionalismo multinível como alternativa à crise individualista. Revista Eletrônica de Direito do Centro Universitário Newton Paiva, n.42, p. 100-120, set./dez. 2020. Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/151205/virus_neoliberalismo_constitucionalismo_fachin.pdf. Acesso em: 18 jul. 2024;
FASSIN, Didier. Punir: uma paixão contemporânea. Tradução André Bezamat. Âyiné: Belo Horizonte, 2021;
FERNANDES, Victória Mello. Corpos em punição-tratamento: persistências manicomiais em processos de execução de pessoas com transtornos mentais em conflito com a lei. Estudos de Sociologia. Revista do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE. Recife, v. 2, n. 9, p. 22-43, 2023. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/revsocio/article/view/259651/46075. Acesso em: 7 jul. 2024;
FERREIRA, Poliana da Silva. O “estudo de caso” como método para compreender a responsabilização jurídica da polícia que mata. In: BRAGA, Ana Gabriela Mendes; IGREJA, Rebecca Lemos; CAPPI, Riccardo (Orgs.). Pesquisar empiricamente o direito II: percursos metodológicos e horizontes de análise. São Paulo: Rede de Estudos Empíricos em Direito, 2022, p. 150-170;
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1987;
HERRERA FLORES, Joaquín. Los derechos humanos como productos culturales. Crítica del humanismo abstracto. Madrid: Catarata, 2005;
______. A reinvenção dos direitos humanos. Tradução de Carlos Roberto Diogo Garcia, Antônio Henrique Graciano Suxberger, Jefferson Aparecido Dias. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2009;
MATO GROSSO DO SUL. Coordenadoria das Varas de Execução Penal de MS (COVEP) e Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (GMF), do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul. Provimento n. 222 de 12 de fevereiro de 2020. Disciplina o procedimento para a execução, a avaliação e o acompanhamento das medidas terapêutico-cautelares, provisórias ou definitivas, aplicáveis judicialmente à pessoa com transtorno mental em conflito com a lei, no âmbito da rede de atenção psicossocial, das clínicas, instituições e hospitais psiquiátricos vinculados ou não ao Sistema Único de Saúde (SUS).Disponível em: https://www.tjms.jus.br/legislacao/visualizar.php?lei=34230&original=1. Acesso em: 11 jul. 2024;
MACHADO, Maíra Rocha. O estudo de caso na pesquisa em direito. In: Machado, Maíra Rocha (Org.). Pesquisar empiricamente o direito. São Paulo: Rede de Estudos Empíricos em Direito, 2017, p. 357-389;
MELOSSI, Dario; PAVARINI, Massimo. Cárcere e fábrica - As origens do sistema penitenciário (séculos XVI-XIX). Pensamento Criminológico, v. 11, 2ª ed (1ª reimpressão). Rio de Janeiro: Revan, ICC, 2014;
MIRAS, Antonio Péres. Direitos Estatutários Autônomos no Contexto da Tutela Multinível. Direito Público, [S. l.], v. 17, n. 95, 2020. Disponível em: https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/direitopublico/article/view/3885. Acesso em: 10 jul. 2024;
NISIIDE, Ana Carolina. C. B.; BAGATIN, Thiago. BOARINI, Maria Lúcia. O imbróglio da periculosidade na manutenção dos manicômios judiciários: as decisões dos desembargadores paranaenses. Em Pauta: teoria social e realidade contemporânea, Rio de Janeiro, v. 21, n. 54, pp. 124-140, jan./abr. 2024. Disponível em: https:/doi.org/10.12957/rep.2024.80310. Acesso em: 15 jul. 2024:
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020;
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração dos Direitos de Pessoas com Deficiência Mental. Resolução n. 2.856, de 20 de dezembro de 1971. Disponível em: https://www.camara.leg.br/Internet/comissao/index/perm/cdh/Tratados_e_Convencoes/Deficientes/declaracao_direitos_deficiente_mental.htm. Acesso em: 16 jul. 2024;
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios para a Proteção de Pessoas Acometidas de Transtorno Mental e para a Melhoria da Assistência à Saúde Mental. 1991. Disponível em: https://laps.ensp.fiocruz.br/arquivos/documentos/11. Acesso em: 16 jul. 2024;
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. 1966. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm. Acesso em: 16 jul. 2024;
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção contra a tortura e outro tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. 1984. Disponível em: https://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/tortura/lex221.htm. Acesso em: 16 jul. 2024;
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura. 1985. Disponível em: https://www.oas.org/juridico/portuguese/treaties/a-51.htm. Acesso em: 16 jul. 2024;
________. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Ximenes Lopes versus Brasil. Sentencia de 4 de julho de 2006. 2006. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf. Acesso em: 17 jul. 2024;
________. Convenção Interamericana de Direitos Humanos. 1969. Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm. Acesso em: 16 jul. 2024;
________. Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso Guevara Díaz versus Costa Rica. Sentencia de 22 de junio de 2022. Disponível em: https://jurisprudencia.corteidh.or.cr/vid/corte-idh-caso-guevara-916956402. Acesso em: 21 jul. 2024;
OSLEN, Ana Carolina Lopes; SANTANA, Anna Luisa Walter. Trazendo as empresas para o tabuleiro: diálogos multi-ator para implementação dos standards interamericanos sobre pandemia e direitos humanos. Revista Brasileira de Políticas Públicas. v. 11, n. 2, 2021, p. 825-854. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/7801/pdf#. Acesso em: 18 jul. 2024;
PIOVESAN, Flávia. Prefácio. HERRERA FLORES, Joaquín. A reinvenção dos direitos humanos. Tradução de Carlos Roberto Diogo Garcia, Antônio Henrique Graciano Suxberger, Jefferson Aparecido Dias. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2009, p. 13-16;
QUIVY, Raymond; CAMPENHOUDT, Luc Van. Manual de investigação em ciências sociais. Tradução: João Minhoto Marques, Maria Amália Mendes e Maria Carvalho. 4 ed. Gradiva: Lisboa, 2005;
RAJAGOPAL, Balakrishnan. Los derechos humanos y el Tercer Mundo: construyendo el discurso de la resistencia. El derecho internacional desde abajo. International Law Students Association, Washington, 2005;
_____. Counter-hegemonic International Law: Rethinking Human Rights and Development as a Third World strategy. Third World Quarterly, vol. 27, n. 5, p. 767-783, 2006. Disponível em: https://www.aalco.int/rajagopal2007.pdf. Acesso em: 16 jul. 2024;
SAMPAIO, Rafael Cardoso; LYCARIÃO, Diógenes. Análise de conteúdo categorial: manual de aplicação. Brasília: Enap, 2021;
SACCHETIN, Beatriz Ferruzzi. Correlação entre laudos psiquiátricos e sentenças judiciais na determinação de medidas de segurança: dados de São Paulo/SP em 2019. Revista Brasileira de Ciências Criminais , [S. l.], v. 197, n. 197, p. 293–337, 2024. Disponível em: https://publicacoes.ibccrim.org.br/index.php/RBCCRIM/article/view/499. Acesso em: 21 jul. 2024;
SAMPAIO ROSSI, Amélia. Derechos Fundamentales y Derechos Humanos: el estrechamiento de las fronteras conceptuales y la necesidad de un diálogo entre la órbita jurídica interna e internacional. Opinión Jurídica, v. 18, n. 37, p. 209-230, 30 out. 2019. Disponível em: https://revistas.udem.edu.co/index.php/opinion/article/view/2997/2752. Acesso em: 17 jul. 2024;
SANTOS, Paulo Junior Trindade dos. Constitucionalismo pós-moderno e (co)relação com o direito internacional dos direitos humanos. Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD). 13(3), p. 390-403, setembro-dezembro 2021. Disponível em: https://revistas.unisinos.br/index.php/RECHTD/article/view/23096/60749051. Acesso em: 18 jul. 2024;
TABORDA, José G. V.; ARBOLEDA-FLÓREZ, Júlio. Ética em psiquiatria forense: atividades pericial e clínica e pesquisa com prisioneiros. Brazilian Journal Psychiatry. v. 28 (suppl. 2), out/2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1516-44462006000600007. Acesso em: 15 jul. 2024;
TOMÁS MALLÉN, Beatriz. Derechos fundamentales y drittwirkung en perspectiva multinivel: desarrollos recientes en el derecho europeo. Revista de Derecho Político, [S. l.], n. 115, p. 207–235, 2022. DOI: 10.5944/rdp.115.2022.36335. Disponível em: https://revistas.uned.es/index.php/derechopolitico/article/view/36335. Acesso em: 10 jul. 2024;
WERMUTH, Maiquel Ângelo Dezordi; DE CASTRO, André Giovane. Quando a exceção vira regra: a indiscernibilidade entre autoritarismo e democracia no direito processual penal brasileiro. Revista da Faculdade de Direito da UERJ - RFD, [S. l.], n. 41, p. 1–25, 2022. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/rfduerj/article/view/56969. Acesso em: 18 jul. 2024;
YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução Daniel Grassi. 2 ed. Porto Alegre: Bookman 2001.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os direitos autorais dos artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação.
Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Se não houver tal indicação, considerar-se-á situação de autoplágio.
Portanto, a reprodução, total ou parcial, dos artigos aqui publicados fica sujeita à expressa menção da procedência de sua publicação neste periódico, citando-se o volume e o número dessa publicação. Para efeitos legais, deve ser consignada a fonte de publicação original.