Como analisar ideologicamente o “populismo penal”?
Breves lições extraídas de experiências populistas no Brasil pós-redemocratização
Visualizações: 16DOI:
https://doi.org/10.5281/zenodo.15001947Palavras-chave:
Ideologia, Populismo, Controle do crime, Populismo penalResumo
Há pouco mais de duas décadas, o modelo teórico conhecido como “populismo penal” busca explicar os principais desenvolvimentos da política criminal, sobretudo em países anglófonos (EUA e Inglaterra), mas também em outras nações ocidentais, inclusive o Brasil. Frequentemente, o populismo penal tem sido considerado sinônimo de expansão desenfreada do punitivismo em tais sociedades. Entretanto, não tem sido estabelecida uma relação entre o recrudescimento das leis penais e o sistema político vigente em uma determinada sociedade. Nossa análise parte da premissa de que as ideologias constituem uma importante categoria analítica para inúmeras disciplinas e, em especial, para a compreensão da questão penal. Utilizaremos a chamada “análise morfológica” de Michael Freeden para examinar a estrutura interna (conceitos) de uma importante ideologia política: o populismo. Será realizado um teste empírico da tese do “populismo penal” na experiência política brasileira após a redemocratização do país, que viveu sob o domínio de uma ditadura militar até a década de 1980. Para tanto, foi analisada a legislação penal e processual penal produzida durante três governos populistas (Collor de Mello, Lula e Bolsonaro), basicamente para identificar se houve, ou não, expansão do punitivismo em tais períodos. Nossa hipótese é a de que não existe um link necessário entre o populismo político e uma política criminal mais punitivista. A partir do resultado desta pequena investigação empírica, nosso objetivo será propor uma nova compreensão do fenômeno do “populismo penal”, como verdadeira ideologia penal, isto é, ideologia do controle do crime.
Downloads
Publication Facts
Reviewer profiles Indisp.
Author statements
Indexed in
- Academic society
- Instituto Brasileiro de Ciências Criminais
- Publisher
- Editora Revista dos Tribunais (RT)
Referências
AKKERMAN, Tjitske. Populism and democracy: challenge or pathology? Acta Politica, vol. 38, 2003, pp. 147-159.
ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado (Notas para uma investigação). In: ŽIŽEK, Slavoj (org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
AMADEO, Javier; PAULA, Guilherme Tadeu de. A saga do populismo: momentos da história de um conceito. EXILIUM Revista de Estudos da Contemporaneidade, vol. 2, n. 3, 2021, pp. 365-402.
BARKER, Vanessa. The politics of punishing: building a State governance theory of American imprisonment variation. Punishment & Society, vol. 8, n. 1, 2006, pp. 5-32.
______. Nordic Exceptionalism revisited: Explaining the paradox of a Janus-faced penal regime. Theoretical Criminology, vol. 17, n. 1, 2012, pp. 5-25.
BELL, Daniel. The end of ideology: on the exhaustion of political ideas in the fifties. Harvard: Harvard University Press, 2000.
BOTTOMS, Anthony. The philosophy and politics of punishment and sentencing. In: CLARKSON, Chris; MORGAN, Rod (eds.). The politics of sentencing reform. Oxford: Clarendon, 1995.’
BRANDARÍZ-GARCÍA, José A. An enduring sovereign mode of punishment: Post-dictatorial penal policies in Spain. Punishment & Society, vol. 20, n. 3, 2018, pp. 308-328.
CAVADINO, Michael; DIGNAN, James. Penal policy and political economy. Criminology and Criminal Justice, vol. 6, n. 4, 2006a, pp. 435-456.
______. Penal systems: a comparative approach. Londres: SAGE, 2006b.
CHELIOTIS, Leonidas K.; XENAKIS, Sappho. Punishment and political systems: State punitiveness in post-dictatorial Greece. Punishment & Society, vol. 18, n. 3, 2016, pp. 268-300.
CHEVIGNY, Paul. The populism of fear: politics of crime in the Americas. Punishment & Society, vol. 5, 2003, pp. 77-96.
DAL SANTO, Luiz Phelipe. Populismo penal: o que nós temos a ver com isso? Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 168, jun. 2020, pp. 225-252.
DE LA TORRE, Carlos. Populism in Latin America. In: KALTWASSER, Cristóbal Rovira; TAGGART, Paul; OCHOA ESPEJO, Paulina; OSTIGUY, Pierre (eds.). The Oxford handbook of populism. Oxford: Oxford University Press, 2017.
DI TELLA, Torcuato. Populismo y reforma en América Latina. Desarrollo Económico, vol. 4, n. 16, 1965, pp. 1-38.
DZUR, Albert. The myth of penal populism: democracy, citizen participation, and American hyperincarceration. The journal of speculative philosophy, New Series, vol. 24, n. 4, 2010, pp. 354-379.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2019.
FESTENSTEIN, Matthew; KENNY, Michael. Political ideologies: a reader and a guide. Oxford: Oxford University Press, 2005.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 2007.
FOUCAULT, Michael. Arqueologia do saber. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.
FREEDEN, Michael. Ideology: a very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2003.
______. The morphological analysis of ideology. In: FREEDEN, Michael; SARGENT, Lyman Tower; STEARS, Marc (eds.). The Oxford handbook of political ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2013.
FUKUYAMA, Francis. The end of history and the last man. Nova Iorque: Free Press, 2006.
GADINO, Carlos Alberto da Silva. O populismo penal: uma definição possível? Atuação: Revista Jurídica do Ministério Público Catarinense, v. 16, n. 35, dez. 2021, pp. 25-55.
GALLO, Zelia A. From ideologies to institutions, to punishment: the importance of political ideologies to the political economy of punishment. In: LACEY, Nicola; SOSKICE, David; CHELIOTIS, Leonidas K.; XENAKIS, Sappho (eds.). Tracing the relationship between inequality, crime, and punishment. Oxford: Oxford University Press, 2020.
GARLAND, David. A cultura do controle: crime e ordem social na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Revan, 2008.
______. What’s wrong with penal populism? Politics, the public, and criminological expertise. Asian Journal of Criminology, vol. 16, 2021, pp. 257-277.
GERMANI, Gino. Clases populares y democracia representativa en América Latina. Desarrollo Económico, vol. 2, n. 2, jul.-set. 1962, pp. 1-23.
GOMES, Luiz Flávio; ALMEIDA, Débora de Souza. Populismo penal midiático: caso Mensalão, mídia disruptiva e direito penal crítico. São Paulo: Saraiva, 2013.
GÓMEZ, Andrés; PROAÑO, Fernanda. Entrevista a Máximo Sozzo: ‘Qué es el populismo penal?’. URVIO, Revista Latinoamericana de Estudios de Seguridad, n. 11, mar. 2021, pp. 117-122.
GOMES, Luiz Flávio; GAZOTO, Luís Wanderley. Populismo penal legislativo: a tragédia que não assusta as sociedades de massas. 2ª ed. Salvador: JusPodivm, 2020.
GREIMAS, A.J.; COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2021.
HAWKINS, Kirk A.; JENNE, Erin; KOCIJAN, Bojana; KALTWASSER, Cristóbal Rovira; SILVA, Bruno Castanho. Global Populism Database, 2019. Disponível em: <https://populism.byu.edu>. Acesso em 9 ago. 2022.
HAWKINS, Kirk A.; KALTWASSER, Cristóbal Rovira. Introduction: the ideational approach. In: HAWKINS, Kirk A.; CARLIN, Ryan E.; LITTVAY, Levente; KALTWASSER, Cristóbal Rovira (orgs.). The ideational approach to populism: concept, theory, and analysis. Nova Iorque: Routledge, 2019.
HINDMAN, Matthew Dean. Populism and citizenship: towatizenship: toward a ‘thickening’ of American populism. In: RON, Amit; NADESAN, Majia (eds.). Mapping populism: approaches and methods. Nova Iorque: Routledge, 2020.
HOUGH, Mike. People talking about punishment. The Howard Journal, vol. 35, n. 3, 1996, pp. 191-214.
JOHNSTONE, Gerry. Penal policy making: elitist, populista or participatory? Punishment & Society, vol. 2, 2000, pp. 161-180.
LACLAU, Ermesto. On populist reason. Londres: Verso, 2005.
LACLAU, Ernesto; MOUFFE, Chantal. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. São Paulo: Intermeios; Brasília: CNPq, 2015.
LAPPI-SEPPÄLÄ, Tapio. Explaining imprisonment in Europe. European Journal of Criminology, vol. 8, n. 4, 2011, pp. 303-328.
LARRAURI, Elena. Populismo punitivo... y cómo resistirlo. Jueces para la Democracia: Información y Debate, n. 55, mar. 2006, pp. 15-22.
LEOPOLD, David. Marxism and ideology: from Marx to Althusser. In: FREEDEN, Michael; SARGENT, Lyman Tower; STEARS, Marc (eds.). The Oxford handbook of political ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2013.
LOADER, Ian. Fall of the ‘Platonic guardians’: liberalism, criminology and political responses to crime in England and Wales. British Journal of Criminology, vol. 46, n. 4, 2006, pp. 561-586.
______. The anti-politics of crime. Theoretical Criminology, vol. 12, n. 3, 2008, pp. 399-410.
LOADER, Ian; SPARKS, Richard. Ideologies and crime: political ideas and the dynamics of crime control. Global Crime, vol. 17, n. 3-4, 2016, pp. 1-17.
MANNHEIM, Karl. Ideology and utopia: an introduction to the sociology of knowledge. Mansfield Centre, Connecticut, EUA: Martino Publishing, 2015.
MANSBRIDGE, Jane; MACEDO, Stephen. Populism and democratic theory. Annual review of law and social science, vol. 15, 2019, pp. 59-77.
MARQUES, Rosa Maria; MENDES, Áquilas. O social no governo Lula: a construção de um novo populismo em tempos de aplicação de uma agenda neoliberal. Revista de Economia Política, vol. 26, n. 1, 2006, pp. 58-74.
MATTHEWS, Roger. The myth of punitiveness. Theoretical Criminology, vol. 9, 2005, pp. 175-201.
MENDES, André Pacheco Teixeira. Por que o legislador quer aumentar penas? Populismo penal na Câmara dos Deputados. Análise das justificativas das proposições legislativas no período de 2006 a 2014. Belo Horizonte: Del Rey, 2019.
MUDDE, Cas. The populist Zeitgeist. Government and opposition, vol. 3, n. 3, 2004.
______. Populism: and ideational approach. In: KALTWASSER, Cristóbal Rovira; TAGGART, Paul; OCHOA ESPEJO, Paulina; OSTIGUY, Pierre (eds.). The Oxford handbook of populism. Oxford: Oxford University Press, 2017.
MUDDE, Cas; KALTWASSER, Cristóbal Rovira. Populism and (liberal) democracy: a framework for analysis. In: MUDDE, Cas; KALTWASSER, Cristóbal Rovira (eds.). Populism in Europe and the Americas: threat of corrective for democracy? Cambridge: Cambridge University Press, 2012a.
______. Populism: corrective and threat to democracy. In: MUDDE, Cas; KALTWASSER, Cristóbal Rovira (eds.). Populism in Europe and the Americas: threat of corrective for democracy? Cambridge: Cambridge University Press, 2012b.
______. Exclusionary vs. Inclusionary populism: comparing contemporary Europe and Latin America. Government and opossition, vol. 48, n. 2, 2013a.
______. Populism. In: FREEDEN, Michael; SARGENT, Lyman Tower; STEARS, Marc (eds.). The Oxford handbook of political ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2013b.
______. Populism: a very short introduction. Oxford: Oxford University Press, 2017.
PANIZZA, Francisco; MIORELLI, Romina. Populism and democracy in Latin America. Ethics and International affairs, vol. 23, n. 1, 2009, pp. 39-46.
PEREIRA, André Martins. Populismo penal e política criminal brasileira. São Paulo: Tirant Lo Blanch, 2020.
PRATT, John. Penal populism. Londres: Routledge, 2007.
______. Scandinavian Exceptionalism in an era of penal excess. Part I: the nature and roots of Scandinavian Exceptionalism. The British Journal of Criminology, vol. 48, 2008a, pp. 119-137.
______. Scandinavian Exceptionalism in an era of penal excess. Part II: Does Scandinavian Exceptionalism have a future? The British Journal of Criminology, vol. 48, 2008b, pp. 275-292.
PRATT, John; MIAO, Michelle. The end of penal populism; the rise of populist politics. Archiwum Kryminologii, vol. XLI, n. 2, 2019, pp. 15-40.
RAMOS, Marcelo Butelli; GLOECKNER, Ricardo Jacobsen. Os sentidos do populismo penal: uma análise para além da condenação ética. Delictae, vol. 2, n. 3, jul.-dez. 2017, pp. 248-297.
RICCI, Paolo; IZUMI, Marcelo; MOREIRA, Davi. O populismo no Brasil (1985-2019): um velho conceito a partir de uma nova abordagem. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 36, n. 107, pp. 1-19.
RICŒUR, Paul. Hermenêutica e ideologias. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
______. A ideologia e a utopia. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
ROBERTS, Julian; STALANS, Loretta; INDERMAUR, David; HOUGH, Mike. Penal populism and public opinion. Oxford: Oxford University Press, 2003.
ROBERTS, Kenneth. Neoliberalism and the transformation of populism in Latin America: the Peruvian case. World Politics, vol. 48, n. 1, 1995, pp. 82-116.
RORTY, Richard. The linguistic turn: essas in philosophical method. 2nd ed. Chicago: Chicago University Press, 1992.
ROSANVALLLON, Pierre. The populist century: history, theory, critique. Cambridge: Polity Press, 2021.
RUEDA, Daniel. Is populism a political strategy? A critique of an enduring approach. Political Studies, vol. 69, n. 2, 2021, pp. 167-184.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 28ª ed. São Paulo: Cultrix, 2012.
SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
SHAMMAS, Victor L. Who’s afraid of penal populism? Technocracy and ‘the people’ in the sociology of punishment. Contemporary Justice Review, vol. 19, n. 3, 2016, pp. 352-346.
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansión del Derecho Penal: aspectos de la política criminal en las sociedades postindustriales. 2ª ed. Madrid: Civitas, 2001.
STANLEY, Ben. The thin ideology of populism. Journal of political ideologies, vol. 13, 2008, pp. 95-110.
STRÅTH, Bo. Ideology and conceptual history. In: FREEDEN, Michael; SARGENT, Lyman Tower; STEARS, Marc (eds.). The Oxford handbook of political ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2013.
TAGGART, Paul. Populism. Buckingham, Inglaterra: Open University Press, 2000.
TODD-KVAM, John. Bordered penal populism: when populism and Scandinavian exceptionalism meet. Punishment & Society, vol. 21, n. 3, 2018, pp. 295-314.
TUSHNET, Mark; BUGARIČ, Bojan. Power to the people: constitutionalism in the age of populism. Oxford: Oxford University Press, 2021.
URBINATI, Nadia. Political theory of populism. Annual Review of Political Science, vol. 22, n. 1, 2019, pp. 111-127.
VAN DIJK, Teun A. Ideology and discourse analysis. Journal of Political Ideologies, vol. 11, 2006, pp. 115-140.
______. Discurso e poder. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2008.
______. Ideology and discourse. In: FREEDEN, Michael; SARGENT, Lyman Tower; STEARS, Marc (eds.). The Oxford handbook of political ideologies. Oxford: Oxford University Press, 2013.
WEYLAND, Kurt. Clarifying a contested concept: populism in the study of Latin American politics. Comparative politics, vol. 34, n. 1, 2001, pp. 1-22.
______. Populism: a political-strategic approach. In: KALTWASSER, Cristóbal Rovira; TAGGART, Paul; OCHOA ESPEJO, Paulina; OSTIGUY, Pierre (eds.). The Oxford handbook of populism. Oxford: Oxford University Press, 2017.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. 9ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
ZIMRING, Franklin E. Populism, democratic government, and the decline of expert authority: some reflections on ‘three strikes’ in California. Pacific Law Journal, vol. 28, n. 1, 1996, pp. 243-256.
ŽIŽEK, Slavoj. The sublime object of ideology. Londres: Verso, 2008.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Os direitos autorais dos artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação.
Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Se não houver tal indicação, considerar-se-á situação de autoplágio.
Portanto, a reprodução, total ou parcial, dos artigos aqui publicados fica sujeita à expressa menção da procedência de sua publicação neste periódico, citando-se o volume e o número dessa publicação. Para efeitos legais, deve ser consignada a fonte de publicação original.